quinta-feira, 10 de março de 2011

Da sujeira do capitão e seu séquito impetuoso*

Velho, tomei a liberdade de postar seu magnífico texto neste blog.
[]´s Manelzinho (André Ribeiro)


Tal esquadrão de patrulheiros eficientes jamais este chão voltou a presenciar. Destemidos sentinelas, salvaguardores legítimos deste pequeno estado dentro do Estado, vigiado por olhos sagazes, movimentos audazes, curiosidade infantil. Liderava este séquito imbatível com inquestionável autoridade o Capitão Sujeira.

Postura rija, voz estremecedora, olhar impenetrável ao medo similar aos dos grandes comandantes da Humanidade.

Inapeláveis ordens proferidas acatadas sem hesitação por seus fiéis escudeiros, Godoia e Bigudo, entre tantos outros meninos e meninas de braços e pernas magros.

O destacamento do temido Sujeira guarnecia lugares estratégicos deste chão: a galeria do Jamaica, a quitanda do Jeová, o carro do Tio Heitor, a padaria da dona Lígia que os recompensava com balas.

A garantida segurança da rua era composta por um mortífero armamento de poderosas metralhadoras e pistolas de pedaços de pau, granadas de latas e garrafas de efeitos devastadores, enquanto a locomoção era feita sobre velozes e sonoros carros e motos labiais de antiderrapantes pneus descalços. Cortejo que a todos paralisava e impunha a sua livre passagem na inalterável ordem:
- primeiro o Alexandre Grande – o saudoso Capitão Sujeira – , em seguida Godoia – o ousado militar de ginga malandra que driblava ou golpeava qualquer projétil e Bigudo – o atirador sem medo, de olhar frio e neanderthal postura e raciocínio, para além de outros valentes soldados em direção ao QG insuspeito e espertamente camuflado da casa 8, Vila Catarina, rua Babilônia.
A violência gritante de antanho obrigava os bravos guerreiros a batalhas diárias, inevitáveis vitórias contra ladrões de altíssima periculosidade, facínoras e criminosos de diversas ordens. Triunfos comemorados nas cristalinas águas chafarizadas da Varnhagem. Hialino passado de felicidade simples que a liberdade inesgotável da infância proporcionava sob a escaldante luz do astro maior.
Para esses ousados gladiadores inimigo só um havia implacável numerosas baixas responsável forçando ao recuo estratégico do denodado Capitão Sujeira e seus intrépidos comandados.

O ímpeto desses fervorosos combatentes só era freado pelo imbatível e sempre devastador exército de piolhos e seus ataques anuais, submetendo o outrora e para sempre glorioso Sujeira e seus fervorosos subordinados a rasparem seus cabelos. Com as frontes despidas de suas crespas cabeleiras, tais quais Sansões urbanos, o mais vitorioso e temido séquito babilônico reduzia a autoestima a irrisório nível, jamais condizente com a postura bravia de incansável prontidão à defesa de seu consagrado e celebrado território, a pátria Babilônia.

E a rua, seus arredores e moradores desguarnecidos, à mercê da própria sorte, vivenciavam dias de caos... poucos dias, felizmente.

Ricardo Riso

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