domingo, 20 de março de 2011

Rua Babilônia e Parada de Aguiar... os dois lugares que estarão (para sempre) em meu coração

Dia desses eu postei aqui neste blog a visita do meu ilustríssimo primo Agostinho, que eu tive o prazer de conhecer, lamentavelmente só agora. Por vezes, veio visitar seu primo em primeiro grau, meu bisavô José Joaquim, na rua Babilonia, 45 casa 16, lá pelos longínquos anos de 1950.

Hoje, eu, meu pai, a Izabel e o Caio fomos convidados para o aniversário da sua irmã, D. Alcina, e tivemos o prazer de conhecer outros integrantes da família Ribeiro. 

Foi um dia realmente maravilhoso! 

Agradeço o Sr. Agostinho e esposa pelo convite, o sr. João Albino e esposa pelo carinho com que nos recebeu em sua nova residência e os demais primos (D. Laurinda, D. Alcina, Sr. Antônio, Manuel Agostinho, Luis, Carlos, e os demais familiares) pela simpatia e acolhimento.     

Seguem algumas fotos tiradas para nos lembrar (para sempre) desses bons momentos em que conhecemos familiares e revivemos velhas histórias aqui do Brasil e de Parada de Aguiar.

Manelzinho (André Ribeiro)








quarta-feira, 16 de março de 2011

Da sujeira do butequim, alcoólicas cinzas de um tempo deste chão*


Hammurabi, o grande rei da Babilônia, em momento de imensa sensibilidade e sapiência inigualável, pregava a distribuição gratuita de cerveja aos seus súditos, fato que talvez justifique a predileção, ou melhor seria a devoção de boa parte dos moradores da nossa Babilônia por este líquido sagrado milhares de anos depois. Injustiça sem tamanho de seus habitantes não terem durante esses anos providenciado um busto, um totem, ou templo, ou obelisco, sei lá, o que fosse! Sei que Hammurabi merecia e merece uma homenagem explícita na rua que ostenta o nome do seu reino.

O fato é que a Babilônia e seu território anexado, a rua Major Ávila, possuíram autênticos bares, botecos ou butequins (adoro esta grafia oralizada) que em nada remetem a esse conceito deturpado e agressor a uma das maiores manifestações da cultura carioca. Os Devassa, Belmont, Manuel & Joaquim, entre outras franquias que se espalharam pela cidade como vírus de internet, ofendem a história ao se apropriarem do nome dessa legítima instituição carioca, o butequim.

Butequim que se preza possui como primeira prerrogativa a sujeira. Se o descuido com a limpeza não for visível, o estabelecimento pode ter qualquer nome, menos butequim. Deve ter as iguarias tradicionais de procedência duvidosa e aspecto hostil, um cardápio básico e duas ou três opções de prato comercial, no máximo e sem frescuras. Para além de outras características, deve ter banheiro único com mictório repleto de limões e um reservado com privada sem tampa e sem papel higiênico, bastando que as damas o peçam ao dono, que o dará resmungando. Este, impaciente, mas de certa maneira parceiro.

por isso
agora falo de um certo
Jaime
do bar primevo
etílicas viagens

Jaime
judeu, esguio, barba sempre por fazer,
vascaíno, motoqueiro de agrale
ranzinza rabugento
pão-duro que só
dez centavos dívida imperdoável
colibri que o diga
proibição na pele sofreu
james card suspenso

Jaime
de presenças ilustres e respeitadas
como a do xará, o saudoso Sr. Jaime

Jaime
do convidativo grau do Gogô
(santificada batida de mel)
partida de muitos trens
da união cerva-cannabis-cannabis-cerva
para tudo terminar em pó
sem necessária ordem seguir

Jaime
dos ovos cozidos multicoloridos
das carnes de feijão tenebrosas no balcão
dos copos sujos de graxa da agrale guerreira

Jaime
lugar de encontro sagrado ao final do dia
léuris fabinho edu cintura minhoca cacá japa luís mongol bruno consuelo marli denise jackie bira léo raposão belota jane marco aurélio aílton magal daniel renatinho jacó fumaça marcinha valério rosinha mico odair alex rafael paulinho jamaica camélia ti’bola tuty ana paula flavinha flávia gorda carla andréia buquissú big loura xande elaine paulista carlinhos boxeador sandra sueli pepa lena rosa nova cecília cláudia marcinha nilson pessoal da comlurb manel babão blau fábio trog paulinho delano colibri mônica raquel bia vela neco andré primo velho pagador fabiano fob rola caçapa rodrigo rogério clédson camelôs da saenz peña e tantos outros que em algum momento partiram, luta inglória para os fracos, para acender o seu cigarro na caixa de fósforos presa cuidadosamente à caixa registradora. Caixa de fósforos secular, pois somente os palitos eram trocados, elevando o simples ato de acender um cigarro a um exemplo digno de resistência, perseverança e fé para os contemplados com o sucesso. As reclamações, súplicas até, eram sumariamente ignoradas por ele, o Jaime, o dono do butequim dos nossos primeiros porres, alcoólicas cinzas de um tempo que permanecem neste chão.

Ricardo Riso
14/03/2011

sábado, 12 de março de 2011

A Babilônia e o Jogo do Bicho

O jogo do bicho foi motivo de grande preocupação da minha mãe e da minha avó quando, recém chegadas de Portugal, souberam que teriam esses vizinhos a poucas casas de distância. 

Por intermédio de pessoas chegadas do Brasil, ainda em Portugal, souberam que se tratava de subversão (e subversão era coisa combatida com extrema truculência pelo governo do Salazar, no país do Salazar). Como teriam vizinhos subversivos sem sofrer as consequências da subversão?

No Brasil a coisa era diferente, mesmo em 1958: era subversivo, ilegal, mas sempre funcionou! E funciona até hoje, 2011. E por que não poderia funcionar, me pergunto, já que não há obrigação de jogar - os apostadores jogam por que querem, por que gostam, pelo poder de arriscar a ganhar o prêmio. Outro dia mesmo conversando com um taxista, passando pela rua Riachuelo, se não me engano, ele me falou que tinha boas recordações de um certo beco, pois foi ali que ele ganhou uma boa bolada no bicho e foi capaz de trocar de carro. 

Gostaria de saber desde quando existe o ponto do jogo do bicho lá na Babilônia 45. Em 1958 operava a plano vapor. Provavelmente a Sueli, moradora de anos da vila nº 45 casa 08 ou o Sr. Eupídio, que morou na casa 11 devem saber responder. Serão procurados em breve, pois são bibliotecas vivas da rua Babilônia.

O fato é que nunca soube de nenhum problema causado pelo jogo do bicho lá na Babilônia. Pelo contrário. Todos os funcionários e o próprio chefe do ponto, o Sr. Heitor, nos tratavam com muito respeito e nunca demonstraram arrogância e intenções de se instalar como um poder paralelo. Até hoje isso ocorre. Bons tempos aqueles!

Como bem lembrado pelo Ricardo: só não podia bater com a bola na loja ou no Fusquinha, aí o Heitor virava bicho (de verdade!). Gostaria muito de localizar sua família, algum filho ou parente e saber mais sobre sua trajetória de vida, boa parte dela passada na lojinha do bicho na rua Babilônia. Uma foto, do Heitor e/ou do fusquinha, já seria um bom começo.

[]´s

Manelzinho (André Ribeiro) 

O estarrecedor brado do Bicho

1º - 0402
2º - 9669
3º - 2020
4º - 9698
5º - 4845
6º - 9669

Necessária inteligência para jogar, sabedoria popular da interpretação dos sonhos também ajuda. Quem é burro no pensar e porco nas ideias nada arruma. Quem acorda com a cantoria do galo, recorda o sonho e realiza as associações com a esperteza do macaco, atento aos detalhes como o cachorro e tudo anota, sai para jogar com a sagacidade do gato e a ligeireza do coelho. Sorrateiro como a cobra ao apontador chega e espera espantar o tempo de vaca magra. Na fé do carneiro que quer agradar a sua cabra, sonha com a bolada robusta como o elefante e forte tal qual o cavalo, para assim da elegância de um pavão vestir-se para sua borboleta amada. A hora do resultado avança na velocidade do camelo, com o olhar perscrutador da águia confere o seu jogo. Deu avestruz na cabeça e a bolada do tamanho de um urso garantida. Agora poderá convidá-la para aquele jantar à luz de vela com carne de peru e vinho, porque ele não está de bobeira, é casca grossa como couro de jacaré e arisco como o tigre. Veado que não é, pretende devorar o seu desejo com a volúpia do touro e a ferocidade do leão.

Babilônia-Bicho
Bicho-Babilônia
Para sempre irmanados neste chão

O poema dos bichos e do bicho
começa versando para
introduzir o seu protagonista.

Da antiga casa 9 da Vila Catarina, tradicional ponto do jogo de bicho da Tijuca à loja do Seu Heitor na galeria do Jamaica, bem ao lado da garagem do prédio, ou subversivamente conhecida como o beco da Babilônia, ponto de consumo de drogas da rua.

Seu Heitor, sapato de graxa impecável, meias finas, calças de tergal ou linho, camisas de botão quadriculadas, as cores sempre sóbrias, cordão pendurado no pescoço, relógio no pulso, anéis nos dedos, cabelo estático penteado para trás e a inseparável capanga com o berro (sempre disseram que ele andava armado). Visual básico do bicheiro, do macho e do malandro carioca.

Inseparável dupla, Heitor e Arlindo, de passados obscuros, histórias veladas de um tempo que o bicho era perseguido com rigor. Arlindo, seria o nome ironia com o senhor? Pouco falava a exótica figura do corcunda da Babilônia. Seus espirros sequenciais ressoavam como explosões de granadas e ganhava esporros ensandecidos de Seu Heitor que estremeciam a rua, do ponto oposto da Babilônia escutava-se a voracidade das palavras do chefe. Arlindo era o homem que controlava a verba, quem quisesse trocar dinheiro era com ele que deveria se dirigir, para pegar os prêmios também. Acrescentavam que foi uma pessoa de extrema maldade no passado, porém isso sempre dito entre os dentes por àqueles que se atreviam a falar. Enquanto Heitor mantinha o impecável fusca parado sempre no mesmo lugar, na vaga cativa à frente de sua loja. Ai daquele que estacionasse o carro no lugar reservado para ele, algo que somente acontecia com quem não era da rua. Entretanto, algo quase impossível de acontecer, pois Heitor chegava por volta das seis da manhã e somente se retirava para sua casa após às 19h, de segunda a sábado. Aliás, onde morava o Seu Heitor?

De hábitos imutáveis, de um tempo que telefone fixo era objeto de poucos, por isso o liberava para quem precisasse telefonar. Condição jamais permitida, friso de proibição extrema, nos minutos antecessores às 14h e 18h, horários que recebia as ligações informando os resultados a serem divulgados.

Respeitado por todos, temidos por nós, os menores, no máximo um breve cumprimento e a voz autoritária, rascante como a mais afiada navalha detonando o brado estarrecedor que o consagrou: “Olha essa bola aí, porra!” Bola de futebol que batesse no seu carro era motivo para encerrar de forma imediata a peleja. Ninguém possuía sobre nós tamanho poder persuasivo para suspender o bate-bola sagrado.

Passou-se o tempo, Cronos determinando sua marcha e o destino levando os nossos entes para outros firmamentos. Seu Heitor um dia pegou a derradeira estrada e rumou para esses distantes algures formados de plenos nenhuns que todos iremos, mas nunca saberemos quando lá chegaremos. Arlindo, companheiro de décadas de jornada, seguiu a inevitável trajetória logo em seguida. A loja por anos permaneceu fechada, como se não desejando outras vivências, novos viventes.

Hoje, quando ali passo e paro não consigo registrar o que há de novo. Fixo-me os olhos para o interior da loja e vejo os dois companheiros. Seu Heitor sentado lateralmente à mesa, braço direito sobre a cadeira apoiando a cabeça, o braço esquerdo sobre a mesa. Arlindo em pé atrás do balcão no fundo da loja, envolvido pela imensa e contínua papelada que sempre o acompanhou. Faço o mesmo cumprimento para os dois que reproduzi durante vinte e tantos anos e sigo a minha história. O jogo de bicho continua na rua e o Seu Heitor, ao lado do fiel Arlindo, reconfigurados em desconhecidas matérias imperceptíveis para muitos, mantêm as suas babilônicas rotinas. Para todo o sempre.


Ricardo Riso
10-11/03/2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

Da real possibilidade de tirar zero no dado e dos desacertos da crítica*

Mais uma do Velho! Bom texto sobre o nosso saudoso Colibri.




Faceiro, serelepe, esguio ludopedista deste chão. À moda oitentista, o kichute impecável envolvendo as canelas. Futebol simples jogado com seriedade, por que para ele todo jogo era de campeonato. Do golzinho babilônico, a seriedade aliada à simplicidade e à sensibilidade para nos momentos de tensão aos ares a bola mandar. Precisão jamais vista, a esfera disputada por nós caprichosamente presa entre os galhos das árvores. Vários conflitos sangrentos entre os disputantes foram evitados com esse gesto antibeligerante, rápido e certeiro. Judicativo? Não sei dizer, talvez o dom natural do aspirante à atleta acompanhado do formato peculiar do pisante preferido a precisão justifiquem. A inesperada trégua das nossas batalhas futebolísticas transferia todas as reclamações para sua pessoa, mas rijo as recebia com uma indiferença superior e um definitivo, seco e direto foda-se.
É verdade que este poema quer recriar o antanho. Falo de um certo Pedro, também Paulo, da aristocrática família Braga, filho de Pepa e da Paula, primo do Babão e da Mônica, sobrinho da Rosa, neto de Valdir e Edina, descendente do mítico João Pavão Braga. Vila Catarina, Babilônia ancestral.
1974, ano do seu alvorecer. Vasco campeão nacional, Salgueiro**,escola campeã do carnaval carioca com o enredo “Rei de França na Ilha da Assombração”, escola de seu digníssimo pai, tio de todos nós, Brasil, sem Pelé, foi apresentado ao futebol-total e passeia em um carrosel holandês, enquanto as trevas de um general imposto aterrorizavam o país.
Teriam esses acontecimentos (ou se preferirem os esotéricos, essa conjunção astral – ou melhor seria conspiração astral) influenciados Pedro Paulo, atestando o apreço pelo ar, elemento da natureza, e a vocação para o pensamento e as suas indagações ontológicas e metafísicas, questões essas que atônitos nos deixavam? Afinal, ostentar dois nomes em uma mesma pessoa já caracteriza a inquietação do ser e um desejo incontrolável de amplidão, de alguém que não se contenta em ser apenas um.
Oh, incautos meninos de tenra vivência plena de ininterruptas erupções hormonais, distante estavam das reflexões deste Paulo, antes e também Pedro, de sapiência desmedida, incompreendida por todos, metamorfoseou-se em Colibri e com isso a maturidade enigmática foi atingida.
Diferindo de Dadá, o Maravilha, para Colibri não eram apenas três míseros seres ou objetos que paravam no ar. Recordando os postulados pelo folclórico craque de tempos idos: o colibri, o helicóptero e o Dadá. A amplidão e o inusitado do pensamento de Colibri quando a público eram revelados a todos suspendiam. Reafirmo todos, de um pequeno grupo de colegas a maior das plateias caso ele se pronunciasse.
Sempre propondo a transgressão à ordem estabelecida e procurando estabelecer novas fronteiras para a rigidez incômoda do cotidiano, Colibri, convicto, dizia: “Alemanha é time”; e exigia a inscrição da Alemanha em campeonatos de clubes de futebol. Certamente pensando na melhor qualidade que a inclusão do selecionado alemão traria para a competição, e como cruz-maltino fiel, adoraria ver o seu time sobrepujar os alemães. Uma vitória dada como tranquila para ele.
Subverter a língua, ressemantinzando palavras e alterando seus significados também era uma das áreas que a genialidade de Colibri navegava com destemor. Legítimo seguidor do brilhante intelectual do século XX, Roland Barthes, tal como este, Colibri combatia o fascismo da língua, “pois, o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer”. Ou seja, o subversivo Colibri trapaceava a língua conforme sugeria Barthes, “a trapaça salutar da língua, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder”. Um exemplo claro disso foi o clássico oxímoro para nos convidar a então loja da Adidas para “comprar cocada de graça”. Para além do desarranjo linguístico, Colibri revelava um desenfreado humanismo, diria de caráter anárquico, contrário ao capitalismo selvagem que até hoje vivenciamos e sempre justificado e suavizado pelos economistas.
Colibri de olhar visionário, talvez o nosso maior pecado e injustiça contra essa mente brilhante. Aqui peço o perdão ao Divino e a você em nome de todos os seus parceiros de infância, nos acertamos com a História e realizamos a revisão necessária e justa. Em pleno raiar dos anos 1990, a mente magnânima deste vate babilônico, borbulhava em lucubração enquanto discutíamos a realização do segundo Rock in Rio e a interdição do palco maior do futebol, o Maracanã, para o evento de música. Eis que do nada, algo próximo da excelência do Criador ao dar à luz ao cosmos, o pensamento de Colibri alçando voos por firmamentos em tempo algum visualizados por nós, já vislumbrando que a conectividade intensa entre as pessoas se aproximaria em poucos anos, tudo estaria à distância de um clique de mouse e as fronteiras que seriam finalmente abolidas em um mundo completamente globalizado, Colibri propõe, em uma genialidade vanguardista de marketing, a realização do Rock in Rio no Morumbi. Óbvio que foi desacreditado e ridicularizado por nós, seres limitados, normais, medíocres, reles soldadinhos babilônicos destinados aos trabalhos braçais e nunca preparados para o ato de pensar e conduzir os rumos de seus pares. Afinal, como poderia o Rock in Rio (Rio de Rio de Janeiro) ser realizado no Morumbi?!? Em São Paulo?!? Isso soou como uma heresia para nós, inquisidores da Razão.
Outra digna de rememoração desse Nostradamus babilônico e demonstrando sua sapiência e versatilidade nos assuntos pertinentes ao homem e à condição de ser físico ou espiritual, fez com que a consciência ambiental de Colibri florescesse. Ele  pressentiu as consequências nefastas do homem ao meio ambiente e as alterações climáticas que viriam dessas ações, profetizou uma Copa do Mundo no Brasil (quando a ideia de uma Copa realizada aqui era tratada como delírio) com final no Maracanã sob 40ºC, temperatura impensável na virada dos 1980/1990, mas plenamente possível na época atual e provável temperatura da grande finalíssima que acontecerá em julho de 2014. No Maracanã.
A história da humanidade é repleta de registros da incompreensão e da reação furiosa da sociedade diante dos gênios. Sócrates e Galileu Galilei são exemplos notórios e vítimas desse histórico de avaliações falhas dos humanos.
Talvez o tenhamos prendido no Fiat abandonado tempos depois por causa dessas ofensas assim consideradas, sobretudo à cidade e a um inadmissível verão em pleno inverno carioca. Certo que a primeira prisão foi realizada com sucesso. A segunda foi um acontecimento especial e impõe a sua recordação. Sem sombra de dúvidas, esse foi o maior ato de bravura que a Babilônia teve, tem e terá notícia. Colibri enfrentou mais de uma dezena de garotos enfurecidos e não se submeteu à vontade da maioria. Resistiu a cruéis torturas com uma força descomunal, desconhecida de todos e incompatível ao seu corpo franzino. Lutou como um herói saído da mitologia grega, sólido, de energia inesgotável e não foi preso ao Fiat. Foi uma batalha épica em uma tarde ensolarada, exemplo de perseverança e fé na capacidade do homem frente às adversidades da vida. Colibri venceu “a mãe de todas as batalhas” deste chão e que por justiça e merecimento se encontra devidamente registrada nos anais da Babilônia.
Entretanto, é mister recordar a sua mais insólita e memorável afirmação, imortalizada, pendurada como um quadro na parede da memória de cada um de nós. Em um desses jogos de tabuleiro com dados – ludo, war, banco imobiliário, não lembro –, comuns nos anos 1980, na casa do Fábio, que ainda não tinha virado urso, Colibri estava prestes a sofrer uma acachapante derrota. Diante das gozações de todos e da comemoração da inevitável perda, Colibri então foi dominado pelo furor, pressionado por uma resposta à altura que o momento exigia, reagiu com a fugacidade de um relâmpago, e para o seu oponente com a ênfase que sempre o acompanhou, vaticinou palavras estrondorosas como um trovão a estremecer o firmamento: “Tomara que tire zero”!
O impacto dessa declaração foi similar a uma hecatombe nuclear, essas quatro palavras foram mais devastadoras que qualquer tsunami já registrado na História. Somente ele, da sapiência do seu Olimpo, ou seria de uma mente privilegiada oriunda de outra galáxia (Orion, talvez?), poderia proferir uma declaração tão insólita quanto a frase supracitada. Depois disso não houve mais jogo, as gargalhadas tornaram-se incontroláveis. Por sorte, ninguém se feriu ou morreu de ataque cardíaco (ainda bem que todos eram jovens). Mas o que nenhum de nós atentou à época foi a perspicácia do seu ato. Como exímio estrategista que era, livrou-se da humilhante derrota e marcou definitivamente o seu lugar entre as mais ilustres personalidades da gloriosa História da Babilônia, tornando-se um incontestável imortal deste chão.
Todavia, se Colibri afirmou isso foi por que a possibilidade era concreta, certeza disso tenho eu. Por várias vezes tentamos chegar ao zero com um dado rigorosamente numerado de um a seis. O insucesso foi a tônica dessas tentativas frustradas. Por outro lado, Colibri nunca revelou se já conseguiu tirar zero no dado. Fato que ainda merece especulações várias, sendo este um mistério merecedor de aprofundados estudos de matemáticos, físicos, químicos e demais caçadores de mitos. Um mistério até hoje insolúvel, como assim os são as construções das grandes pirâmides do Egito, o exato local de Atlântida, as posições das pedras de Stonehenge, as linhas de Nazca e as enigmáticas estátuas enfileiradas da Ilha de Páscoa.
Por causa de tudo que foi exposto acima e de incontáveis feitos fantásticos aqui não registrados, mas não menos espetaculares dos narrados, aprendi com o tempo a não duvidar de Colibri, por isso desconfio que o zero no dado para ele seja uma realidade e que saiba desvendar “nas paredes da pedra encantada/ os segredos talhados por Sumé”, assim cantados por Zé Ramalho.
Bom, passados mais de vinte anos, às vezes deparo-me nessa vã tentativa. O melhor a fazer é por aqui encerrar estas linhas sobre este apóstolo babilônico, um certo Pedro, também Paulo, o nosso Colibri, tão-somente...

Ricardo Riso

quinta-feira, 10 de março de 2011

Da sujeira do capitão e seu séquito impetuoso*

Velho, tomei a liberdade de postar seu magnífico texto neste blog.
[]´s Manelzinho (André Ribeiro)


Tal esquadrão de patrulheiros eficientes jamais este chão voltou a presenciar. Destemidos sentinelas, salvaguardores legítimos deste pequeno estado dentro do Estado, vigiado por olhos sagazes, movimentos audazes, curiosidade infantil. Liderava este séquito imbatível com inquestionável autoridade o Capitão Sujeira.

Postura rija, voz estremecedora, olhar impenetrável ao medo similar aos dos grandes comandantes da Humanidade.

Inapeláveis ordens proferidas acatadas sem hesitação por seus fiéis escudeiros, Godoia e Bigudo, entre tantos outros meninos e meninas de braços e pernas magros.

O destacamento do temido Sujeira guarnecia lugares estratégicos deste chão: a galeria do Jamaica, a quitanda do Jeová, o carro do Tio Heitor, a padaria da dona Lígia que os recompensava com balas.

A garantida segurança da rua era composta por um mortífero armamento de poderosas metralhadoras e pistolas de pedaços de pau, granadas de latas e garrafas de efeitos devastadores, enquanto a locomoção era feita sobre velozes e sonoros carros e motos labiais de antiderrapantes pneus descalços. Cortejo que a todos paralisava e impunha a sua livre passagem na inalterável ordem:
- primeiro o Alexandre Grande – o saudoso Capitão Sujeira – , em seguida Godoia – o ousado militar de ginga malandra que driblava ou golpeava qualquer projétil e Bigudo – o atirador sem medo, de olhar frio e neanderthal postura e raciocínio, para além de outros valentes soldados em direção ao QG insuspeito e espertamente camuflado da casa 8, Vila Catarina, rua Babilônia.
A violência gritante de antanho obrigava os bravos guerreiros a batalhas diárias, inevitáveis vitórias contra ladrões de altíssima periculosidade, facínoras e criminosos de diversas ordens. Triunfos comemorados nas cristalinas águas chafarizadas da Varnhagem. Hialino passado de felicidade simples que a liberdade inesgotável da infância proporcionava sob a escaldante luz do astro maior.
Para esses ousados gladiadores inimigo só um havia implacável numerosas baixas responsável forçando ao recuo estratégico do denodado Capitão Sujeira e seus intrépidos comandados.

O ímpeto desses fervorosos combatentes só era freado pelo imbatível e sempre devastador exército de piolhos e seus ataques anuais, submetendo o outrora e para sempre glorioso Sujeira e seus fervorosos subordinados a rasparem seus cabelos. Com as frontes despidas de suas crespas cabeleiras, tais quais Sansões urbanos, o mais vitorioso e temido séquito babilônico reduzia a autoestima a irrisório nível, jamais condizente com a postura bravia de incansável prontidão à defesa de seu consagrado e celebrado território, a pátria Babilônia.

E a rua, seus arredores e moradores desguarnecidos, à mercê da própria sorte, vivenciavam dias de caos... poucos dias, felizmente.

Ricardo Riso

terça-feira, 8 de março de 2011

Memórias das Noites Cariocas

Essa é para a "equipe" da Babilônia: neste blog o Alex faz um interessante levantamento da localização e estado atual das casas noturnas famosas dos anos 80 e 90. 


Pessoal, várias delas nós frequentamos! Até mesmo nos mais longínquos lugares, como She-Ras e Rovian em São Gonçalo.

Vale a pena acessar: http://memoriasdanoitecarioca.blogspot.com/


[]´s


Manelzinho (André Ribeiro)

domingo, 6 de março de 2011

Primo Agostinho Gomes Ribeiro

Ontem dia 05 de março de 2011, sábado de Carnaval, eu e meu pai tivemos o prazer de conhecer um primo distante da família Ribeiro: o Sr. Agostinho Gomes Ribeiro.

Explicar o parentesco do Sr. Agostinho é complicado. Mas como eu monto a árvore genealógica da família Ribeiro de Oliveira, e com a precisão da memória do Sr. Agostinho, não foi difícil esclarecer: ele é filho do Sr. Albino Ribeiro, irmão da minha trisavó Maria da Glória (Lourenço) Ribeiro. Ou seja, somos primos em quarto ou quinto grau.

Foi um dia muito agradável. O Sr. Agostinho tem uma mente brilhante. Sua sabedoria e rapidez de raciocínio são invejáveis, no alto dos seus 78 anos. Olhando o Sr. Agostinho falar, reconstitui a imagem do meu avô Abílio: mesmo sendo primos em segundo grau, achei-os parecidos fisicamente, tanto pelo porte físico (ambos tem a mesma altura, que é mesma da minha: 1,78m!), quanto pelos traços faciais. Pode ser que eu esteja equivocado, pois só conheci meu avô por fotografias, mas os achei parecidos.   

Por que essa visita no blog na Babilônia?

Ao chegar de Portugal em 1950, deixando sua velha Parada de Aguiar para trás e viajando por duas semanas no velho navio Serpa Pinto (aquela seria uma das últimas viagens deste navio), o Sr. Agostinho, então com 17 anos veio morar em São Cristóvão, junto ao seu tio Antônio, irmão da sua mãe Ana Ludovina. Eram constantes as suas visitas ao seu primo, José Joaquim, meu bisavô, morador da Babilônia, 45 casa 16. Ontem foi um dia para lembrar essas visitas, sempre acompanhadas de conversas sobre a “terrinha” e adoçadas com bolos e cafés oferecidos pela esposa do meu bisavô, Maria Olívia – a enfermeira com alma superior, conforme mencionado pelo próprio Sr. Agostinho.

As informações do seu Agostinho foram um tanto valiosas para o meu levantamento da árvore genealógica. Consegui desvendar um monte de dúvidas, como o nosso parentesco com o Sr. Manuel Ribeiro, de Araruama, onde por tantas vezes passei férias quando criança. Além de saber do nosso parentesco com o Sr. Francisco e outras pessoas moradoras do Catumbi, tão falados pelos meus pais. Foi um prazer ter a companhia do Sr. Agostinho, a quem posso agora chamá-lo de primo Agostinho!

Manelzinho (André Ribeiro)