Ricardo Riso
22 de junho de 2011
A bola e o negro pé
Os enjaulados chutes nas bolas de papel, de meia, dento-de-leite, couro
Inssurectos gols em solitárias comemorações diárias, noturnas constantes
Gols de liberdade do menino sob o necessário castigo da Mãe Rosa
Lembrar-me-ei das pelejas no golzinho babilônico
Sob o olhar atento e sorridente do Wilson
Dos moleques entortados por teus joviais dribles de guri atrevido posteriormente consagrado como o mais habilidoso, incisivo e abusado atacante entre nós, opinião constatada nas saudosas peladas da Rua das Estrelas, nossa Babylon Arena, e nas vespertinas batalhas futebolísticas na Quinta da Boa Vista com o então negro adulto, escorregadio ponta-direita
Lembrar-me-ei de ti, negro
Das inesperáveis fintas em altíssima velocidade ultrapassando aqueles que tinham a inútil e inglória missão de marcá-lo
Tal como um Garrincha babilônico, éramos os teus “Joões”: Batata, Caçapa, Limpado, Vitor, Heitor, Neco, Manel, André Primo, Trog, Fábio, Felipe, Babão, Colibri, Velho, Fabiano, Rafael, Rodrigo, Alexandre, Pelicano, Delano, Rola, Vela, Magal, Daniel, Belota, Blau, Cledisson, Rogério, Cintura, Go Gô, Fabinho, Odair, Minhoca, Aílton, Cacá, Júlio, João, Renatinho, Mateus, Ploc, Buiú, Júlio Bagulho, Cidinho, Japa, Mico, Marciano, entre tantos outros marcadores humilhados por teus dribles
Lembrar-me-ei de ti, negro
No pós-pelada no beco da Babilônia
A roda e todos nela, a bola inerte
De repente um rápido movimento do teu quilométrico pé sobre a bola, todos, assustados, reagiam com bruscas trombadas, e tu, posicionando a pelota suavemente no mesmo lugar, e o sorriso debochado seguido dos nossos indignados xingamentos mais uma vez ludibriados por tua habilidade incomum
Lembrar-me-ei de ti, negro
Dos lançamentos envenenados, dos balõezinhos astuciosos, dos espetaculares e maliciosos chutes no ângulo do gol, sobretudo do cinematográfico ovinho reinventado por ti, o ovinho pela metade, que consistia na enfiada de bola entre as pernas do adversário com o pé direito deslizando sobre a bola, o corpo flexionado para trás se valendo da tua elasticidade, a tua perna atravessando as pernas do marcador e o ultraveloz retorno, a faceira saída pela direita sob o olhar estupefato do pobre e estático adversário. Esta era a tua marca registrada, jamais imitada.
Ficarei aqui, negro
Lembrar-me-ei de ti
Do sorriso sincero, da amizade desde a tenra idade, dos imprevistos encontros nos arcos da noite lapiana
Enquanto tu passas com o teu indescritível gingado, desfila os dribles improváveis, as fintas inexplicáveis e todo o teu arsenal da arte de bem jogar futebol em verdejantes asfálticos campos no ar, etérea matéria, a demonstrar a tua simpatia e bom humor, a conquistar com a tua esférica sensualidade as belas que se encontram na terceira margem da bola.
Lembrar-me-ei de ti, negro amigo
Paulo Roberto do Nascimento
Sempre
Desde o silêncio que se fez quando soou o apito final da tua vida.
Ainda tá dificil de acreditar que perdi um dos meus melhores amigos!! Mas tenho certeza que está lá em cima fazendo todos sorrirem, como fez por aqui. E a nós resta uma imensa saudade do nosso inesquecível e internacional Paul Robert!!
ResponderExcluirAgradeço Manel, a sua homenagem à ele e a todos nós, que como nos versos do Velho, fomos os seus "Joões"!!!!