Alegre, boêmia, amiga de todos, assim como todos os integrantes de sua família. Na sexta feira dia 03 de junho tive o prazer de conversar com uma das ilustres moradoras da vila 45 e recuperar boa parte da memória da rua Babilônia: Maria Sueli Vilela Pereira, ou simplesmente Sueli.
Moradora das casas 18 (ainda quando havia 20 casas na vila) e 8, a vida da Sueli e da sua família se confunde com a vida da minha família, quando se trata de convívio entre vizinhos, desde a longínqua década de 1930, quando os vizinhos eram mais próximos do que familiares e onde se tomava ar fresco durante os verões cariocas até altas horas da madrugada, sem a menor preocupação com a violência dos dias atuais.
Portugueses, negros, pardos, ricos, pobres, feirantes, comerciantes, eletricistas, carpinteiros, construtores,... parecia não haver diferenciação entre raças, nacionalidades e classes sociais na vila 45 na época em que a Sueli nasceu e onde passou sua juventude e boa parte de sua vida adulta.
Nascida em 17 de junho de 1943, é filha da Pernambucana Almerinda de Oliveira (a D. Lola, como era mais conhecida) e do feirante português Abílio Medeiros Vilela. Moraram na casa 18 até um pouco antes da demolição das casas 17 a 20, por volta de 1963.
Eram vizinhos dos saudosos Sr. Lindinho e D. Buruca moradores da casa 17 (eles tinham uma filha chamada Silene) e, pela casa 20, dos tios Alberto Medeiros Vilela e Olinda de Oliveira Vilela, irmãos respectivos do Sr. Abílio e da D. Lola, que tiveram nada menos que 21 filhos! Entre eles, os mais conhecidos e lembrados por mim são o Sr. Alberto de Oliveira Vilela (o Betinho) e o Sr. José de Oliveira Vilela (o Moreno, afilhado do meu bisavô José Joaquim Ribeiro). A Sueli lembrou do nome de alguns: Clea, Maria Helena, Marli, Marlene, Luis Carlos, Ubirajara. Ainda me vêm à lembrança algumas pessoas ligadas à sua família: Sra. Dilma, filha de criação da D. Lola, mãe do Raulzinho (hoje advogado) e da Raquel, esposa do bombeiro Raul; Dalila, criada pela família do Betinho na casa 20; China, esposa do Betinho; Marina e sua filha Cláudia (é Cláudia, teu Mengo vai mal!!!); Maloca; Bina. Outros a minha memória não chegou: Tico-tico; Vavá; o casal Sr. Flávio e D. Nair e as filhas Heloísa e Wanda (casa 2); a D. Maria e Sr. Manuel e os filhos Jorge e Beth (casa 4). Talvez possa conhecê-los algum dia.
A Sueli estudo nos colégios tradicionais das redondezas: Leitão da Cunha, João Lyra e Instituto de Educação. Aos 20 anos, em 1963, casou-se na igreja Bom Jesus do Calvário com o Sr. Darci Amaral Pereira, então com 36 anos, telegrafista da Rede Ferroviária Federal, com quem teve quatro filhos: Cecília, Cláudia, Bárbara e Leonardo. A esta altura, já havia se mudado para a casa 8.
Infelizmente, em 1975 ficou viúva do Sr. Darci. A vida começou a apertar para ela e sua família, já nesta época, seu pai já havia falecido. As crianças que a D. Lola tomava conta e as marmitas garantiam a sobrevivência da família. Lembro bem de algumas dessas crianças: Alexandre “Grande” (meu grande amigo até hoje, também apelidado de Fob), Cristiane, Alexandre “Pequeno” (Godóia), Andrea (Piu-piu), Marcelo (Umbigudo), Ronaldo, Pelezinho, etc. Ainda havia outras crianças da minha época que passaram por lá: Samantha (a Nega, filha do Betinho), Rodrigo e Ingrid (netos da Sueli, filhos da Cecília e do Sérgio Cintura). Imaginem a festa quando essa criançada toda se reunia para brincar!!!
Um dos momentos mais marcantes da minha adolescência se deu quando a sua filha Cláudio e seu marido Tuninho passaram a confeccionar fantasias para a escola de samba Estácio de Sá, lá na casa 8. Nos reuníamos por lá, bem mais para farrear e menos para trabalhar. Isso por volta de 1986/ 1987. Os diálogos entre o Fob e Cidarta eram memoráveis e dignas de registro!
Mais os momentos de alegria também dão lugar a momentos de dor: nesta mesma época seu filho mais novo, Leonardo, falecia de maneira brutal, aos 18 anos de idade. A notícia correu rapidamente a vizinhança da Rua Babilônia e em Figueira, local próximo a Arraial do Cabo, onde a Sueli lá residia.
Aliás, lá em Figueira eu e meus amigos da Babilônia tivemos a oportunidade de passar momentos inesquecíveis da nossa então recém-chegada vida adulta, quando completamos 18-19 anos e podíamos viajar sozinhos e independentes. Mas isso fica para uma próxima postagem.
Por volta de 1991-1992 (nem eu nem a Sueli lembramos exatamente da data, mas ela falou que foi no dia 11 de agosto) faleceu aos 83 anos a D. Lola, tendo cumprido a sua missão de criar sua filha, seus netos e as demais crianças que por lá passaram. A grande amiga da minha avó Cândida deixou essa vida e, com ela, lá se foram as lembranças e histórias da Rua Babilônia.
O fato é que hoje ainda podemos encontrar a Sueli em sua casa, no bairro de Quintino, junto a alguns de seus netos, ou então visitando a Rua Babilônia uma vez ao mês, próximo ao dia 18. El ame prometeu vasculhar seus arquivos com fotos da D. Lola e de seu casamento. Lembranças que passaram e jamais deverão ser apagadas de nossas memórias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário