domingo, 9 de janeiro de 2011

Sr. Manuel e D. Maria - Casa XVI

Impossível escrever sobre eles de forma isenta, já que sou filho deste casal. Por isso peço àqueles que conhecem a história, que revejam os pormenores que tenham passado despercebido.

A história deles aqui no Brasil começou com a vinda da minha mãe (junto com meus avós e meu tio Zé) para a casa XVI, em 1958. Nesta época, ainda eram vivos o meu bisavô José Joaquim e meu tio avô João, que lá moravam. Meu outro tio avô, Antônio, já era falecido.  

Se eu não me engano, a família da minha mãe foi morar na casa XV. 


Logo começaria a luta pela sobrevivência desta família. Minha mãe foi trabalhar como babá em uma casa em Copacabana, onde lá neste bairro conheceu meu pai (que nessa época, por volta de 1960, trabalhava no hotel Califórnia). Ele chegou ao Brasil também em 1958.

Ao saber do namoro da filha pelo meu tio João, recém chegado aqui no Brasil, meu avô percebeu que estaria ‘perdendo’ seu tesouro mais valioso e, em um gesto de raiva, quebrou um prato à mesa. Logo isso iria mudar quando meu pai passasse a visitar a família. Minha mãe costumava contar que eles tinham uma grande admiração mútua.

Mas um duro golpe assolou esta família: o falecimento prematuro do meu avô, em 1963, aos 44 anos. Os filhos mais velhos, minha mãe e meu tio João, precisaram reerguer a família apoiando minha avó - a esta altura, meus dois tios mais novos, nascidos já no Brasil eram muito crianças: tio Tuninho, com 4 anos, e tia Rosa com 2 anos.

Após a turbulência da morte do meu avô e a vida difícil da minha avó, meus pais se casaram em 1964, com direito a festa na própria casa XVI, cedida para morada do novo casal pelo meu tio avô João.

O começo foi um tanto difícil: além da responsabilidade partilhada com minha avó sobre os dois menores, minha bisavó Deolinda (naquele momento inválida, após uma infeliz queda que lhe custou a fratura da bacia) passou a ficar sob tutela do casal. E ainda vieram as responsabilidades com os próprios filhos: minhas irmãs Andrea e Marcia, nascidas em 1965 e 1968, respectivamente.

Meu pai me conta que, neste período, o dinheiro era curto, o trabalho como garçom era árduo e o tempo era escasso. Ele aproveitava suas folgas, às segundas feiras, para tratar da minha bisavó: um banho mais caprichado, corte de cabelo, etc. Aliás, o corte na orelha do meu tio Tuninho, em uma das vezes que meu pai se aventurou como barbeiro, provavelmente aconteceu em um nesses dias de folga!! Tio Tuninho lembra desse episódio até hoje. As férias nunca existiram para este casal: o dinheiro recebido era para as custas da casa e o tempo de férias era dedicado a benfeitorias, já que a casa, naquela época, já dava sinais de necessidade de reformas.

Os anos de 1970 começavam naquela instante: já sem meu tio avô João, falecido em 1967, minha bisavó Deolinda faleceu em 1970. O ano anterior ao seu falecimento foi bastante difícil, já que ela se encontrava acamada e com a saúde bastante debilitada. Eu nasceria logo após este turbilhão de mudanças na vida deles, em 1974. Dois anos depois, outro duro golpe: meu pai planejava há anos rever sua mãe em Portugal e, quando tudo parecia estar acertado para sua viagem em 1976, ele recebeu o telegrama da sua morte em plena virada de ano. Ele, que aos 18 anos sairia da sua terra natal, nunca mais voltaria a ver sua querida mãe. Ficaram aqui, esposa e seus três filhos, os únicos familiares mais chegados para consolá-lo.


O fato é que vivemos razoavelmente bem, algumas épocas melhores, outras piores, mas sempre com a unidade da família em primeiro lugar. Casamentos, nascimentos, enfim, tudo o que ocorre normalmente em uma grande família. Mas, mesmo diante de um dia ensolarado e limpo, há de se prever os dias de chuvas e trovoadas. O falecimento da minha querida mãe aos 52 anos, vítima de câncer no estômago, foi uma tragédia para todos nós. Mesmo tendo vivido as dores das perdas de familiares, a morte da minha mãe Maria foi indiscutivelmente a mais dolorosa de todas. 

Como a sua morte se deu poucos meses após o casamento da minha irmã Marcia, ficamos eu e meu pai morando sozinhos na casa XVI (a Andréa já estava casada desde 1987). No entanto, entre 1997 e 2003 foram anos dos mais felizes da minha vida, mesmo sem a presença da minha mãe. Viver com meu pai me fez descobrir várias coisas: além do carinho e afeto redobrado que eu tive dele nestes períodos difíceis, descobri que eu havia ganhado uma nova mãe e um novo amigo! São inesquecíveis os mimos (como jantar pronto diariamente às 9 horas da noite, depois do trabalho), o companheirismo e as conversas orientadoras da vida pessoal, profissional, e até mesmo sentimental.
              
Até hoje, depois de 8 anos que eu tenho desde que saí de casa para constituir minha própria família, passo lá na casa XVI para conversar com meu velho, que sempre me espera com um cafezinho, com uma lata de cerveja ou um copo de vinho, quando o clima favorece.

Enfim, essa é a história deste casal que habitou a casa XVI e que continua ainda muito bem representada pelo meu pai. Mesmo morando sozinho, meu velho nunca deixou de ser querido, amado e visitado pelos que aqui estão e, até mesmo, quem sabe, pelos queridos entes que já se foram.


Manelzinho (André Ribeiro) 

5 comentários:

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  2. André, fiquei super emocionada com essa postagem!!!! Apesar da vida dificil, nós fomos muito abençoados por termos pais tão amorosos e dedicados. Hoje, com a correria do dia a dia, fica dificil a gente lembrar dessas historias.Aí, quando a gente se depara com o teu blog, as lembranças vão surgindo... umas boas e outras mais tristes. Eu, sendo a filha mais velha,acredito que vivenciei uma fase mais dificil. Mas são recordações tão especiais que fica dificil ficar triste. Saudosa sim, triste não. Bjs!!!!!!!!! TE AMO!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  3. Olá André! Parabéns pelo blog. Adorei saber de tantos detalhes da história da nossa família. As minhas férias sempre tinha gostinho de quero mais. A minha didinha(sua mãe), sempre carinhosa comigo e com o Tunhinho. Eu e a Andréa aprontando todas. O João fala que eu e o Tuninho fomos criados na base do TOdynho e ele tem toda razão. Eu adorava quando a Dindinha falava: logo mais nós vamos tomar sorvete lá na praça. Enfim, uma infância com muito amor de ambos os lados, sempre valorizando o afeto e respeito. As lembranças da Rua bailônia são tantas que não dá pra postar aqui. Só sei de uma coisa voces moram no meu coração!!!

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  4. André,

    Parabéns pelo macnífico texto de memnórias da nossa família.

    Estou à espera de novos textos

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  5. Eu gostaria de saber mais sobre a familia Ribeiro achar minha decendencia,mais sei a minha familia vem do maranhão e se estente até brasilia nome: da minha avó era Dalvina Ribeiro se vc tiver alguma informçao mande um email:ivanabatista@r7.com Obrigado

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